Casos

Infecção urinária em crianças: evitando condutas extremas

12 de dezembro de 2016 Dra. Rosana Carbone Marques , ,


Na prática rotineira em Nefrologia Pediátrica temos encontrado posições extremistas quanto ao diagnóstico, tratamento e condução clínica nos pacientes pediátricos com suspeita ou diagnóstico de infecção urinária.

No primeiro grupo encontram-se as crianças encaminhadas ao especialista para investigação de infecções urinárias recorrentes, com diagnóstico baseado apenas nos exames de urina tipo 1 que mostram discreta leucocitúria, sem a correlação com urocultura.

Por outro lado, crianças com história prolongada de muitos episódios de ITU, tratadas repetidamente com antibioticoterapia mas sem investigação, radiológica da presença de alterações renais, são encaminhadas ao especialista em momento tardio, quando infelizmente já evoluíram com cicatrizes renais e pielonefrite crônica.

Recentemente, atendemos uma menina de 8 anos com história de mais de 12 episódios de infecção de urina, cuja investigação mostrou cicatrizes renais múltiplas, graves e com retração de parênquima, associado a refluxo vesico-ureteral grau 5. Necessitou cirurgia de correção em idade tardia, quando já apresentava comprometimento da função renal.

As condutas extremistas devem ser evitadas de maneira que não ocorra demora na investigação de alterações renais ou no encaminhamento ao nefrologista pediátrico. Em contrapartida, devemos estar atentos ao diagnóstico de certeza de ITU, que faz-se obrigatoriamente com a realização de urocultura e antibiograma.

A prevalência de ITU na população infantil varia entre 5 a 15% de acordo com idade, gênero e estudo populacional. O acometimento do parênquima renal no processo infeccioso pode deixar lesão cicatricial permanente cujas consequências futuras podem ser a hipertensão arterial e insuficiência renal crônica.

Uma vez diagnosticada corretamente a doença, esse paciente merece investigação posterior, mesmo sendo apenas o primeiro episódio, o que reduz potencialmente a evolução para perda da função renal no futuro.

Entretanto, o correto diagnóstico evita investigações e realização de exames desnecessários, reduzindo tempo e custo desse paciente.

Dessa forma, orientamos que na presença de uma criança com história de febre prolongada, cuja investigação complementar mostra discreta leucocitúria ao exame de urina 1, seja realizada a coleta de urocultura antes da introdução da terapia antibiótica. Essa urocultura pode ser realizada nos serviços de pronto-atendimento ou num momento posterior em laboratórios.

Vale lembrar que comumente a infecção urinária não se acompanha de sintomas respiratórios, como tosse e coriza. Alguns estudos mostram que apenas a presença de febre já pode causar uma discreta leucocitúria, sem estar associado necessariamente ao crescimento bacteriano em amostras de urocultura.

Portanto, torna-se importante o correto diagnóstico de ITU e o adequado encaminhamento posterior ao especialista em tempo oportuno, evitando-se o comprometimento futuro de qualidade de vida do paciente pediátrico.

Publicado originalmente na Revista Visão Médica nº 185 (Outubro de 2014) Pg. 18

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